Avaliação: nova geração da Fiat Strada vira também um carro de passeio
- Renyere Trovão
- 4 de agosto de 2020
A chegada da nova geração da Fiat Strada mexeu com o mercado brasileiro em plena pandemia. O lançamento no fim de junho foi um dos mais badalados no ano. Em menos de duas semanas nas lojas, vendeu mais que a sua média mensal pré-coronavírus.
O TrovãoMotor.com avaliou a versão topo de linha Volcano, com etiqueta de R$ 80 mil. E expõe a seguir os motivos que levaram a Fiat a definir a picape renovada como o produto que deu a largada para uma nova fase da marca no Brasil.
O otimismo da montadora não é exagerado. O modelo tem muitos predicados, porém há também pontos que poderiam ser melhorados, considerando o preço cobrado pela versão.
Dividimos a avaliação em alguns quesitos importantes, como desempenho, espaço e equipamentos, e atribuímos notas de 1 a 5, representadas pela nossa logomarca com o raio estilizado. Confira:
Nova Fiat Strada é um “Torinho”
A semelhança com a irmã maior Toro é um belo elogio para a picape compacta. As duas são quase gêmeas no desenho do capô e da cabine, na linha de cintura ascendente até a caçamba, e, é claro, no formato das lanternas invadindo a lateral.
E o curioso é que olhando de frente, as linhas beberam de outras fontes dentro da marca, no caso Mobi e Argo nos faróis espichados.
A grade frontal é inédita e estreia ao centro o nome “Fiat” em letras garrafais – recurso que migrará para outros modelos da marca.
Traz ainda a nova assinatura da marca no Brasil formada por barrinhas verticais com as cores da bandeira italiana. O detalhe fica mais embaixo, à direita da grade.
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Só o filete que forma a luz diurna em led (DRL) na parte superior dos faróis na versão Volcano lembra o design também usado na picape maior. Mesmo assim, pelo conjunto a referência como um “mini Toro” vai existir.
Os projetores repetem a iluminação em led e dão um visual bem mais impactante do que as halógenas nas demais versões.
Detalhe é a presença de uma falsa saída de ar do capô, na cor preta e em plástico, fixada entre as portas e o paralamas, com função apenas decorativa.
Enfim, a roupagem “Torinho” caiu muito bem para a veterana Strada, no mercado brasileiro há 22 anos.
A iluminação em led na Volcano dá um belo ganho visual à picape.
Multimídia moderna tem conexões sem cabo
O único opcional da Volcano são as rodas de liga leve aro 16, que custam cerca de R$ 2,5 mil. Ou seja, dá para dizer que ela é bem completa dentro do segmento, absorvendo todos os equipamentos extras das demais configurações.
E o destaque é a atualização da central multimídia Unconnect. Com tela de 7″, ela traz a projeção Android Auto e Apple Carplay para celular sem a necessidade de cabo (wireless).
É um recurso ainda incomum no Brasil, presente somente em carros premium. Elimina aquele fio indesejado passando pelo painel ou console, que muitas vezes acaba atrapalhando.
A tela sensível ao toque oferece boa resolução, com uma navegabilidade simples e intuitiva. Há botões físicos para volume e mudança de estação – tem muita gente que ainda prefere usar esses recursos.
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É possível configurar até três perfis diferentes e personalizáveis com o nome do usuário. Isso é ideal no caso de o veículo ser utilizado por mais de uma pessoa. Assim, o dispositivo de entretenimento é configurado ao gosto de cada um.
A câmera de ré é outra função que acompanha o multimídia e necessária devido a traseira alta da picape.
A posição elevada da tela também favorece a fácil visualização. Logo acima ficam localizadas as teclas de alguns comandos do carro.
Estão à mão o botão da luz de neblina, do pisca alerta, do aviso sonoro do sensor de ré, do controle de tração e da luz de iluminação em led da caçamba (novidade da segunda geração).
Quatro airbags e controle de tração avançado
Outros itens que merecem destaque são os airbags laterais, ausentes na rival Volkswagen Saveiro.
E o sistema E-Locker, ou Controle de Tração Avançado. É um bloqueio eletrônico de diferencial que atua junto com o controle de tração em situações leve de off road – até 65 km/h. É acionado de forma automática ou pela tecla TC+ no painel.
Por exemplo, se a picape estiver prestes a atolar numa piso com lama, o bloqueio eletrônico freará a roda com menor aderência e direcionará mais torque (força) pelo diferencial para a com maior tração, auxiliando ao veículo a sair dessa situação.
A lista de componentes de série da Strada tem mais recheio:
- direção elétrica;
- duas entradas USB
- sensor de pressão dos pneus;
- capota marítima.
- assistente de partida em rampa;
- grade de proteção no vidro traseiro;
Só na Volcano
- vidros traseiros elétricos;
- bancos em couro/tecido;
- volante em couro;
- barras longitudinais;
- santantônio;
- pneus de uso misto.
A nova central multimídia Unconnect permite espelhar celulares sem cabo com Android Auto e Apple Carplay.
Nova Fiat Strada evolui no comportamento
A antiga Strada nascida do Palio já dava sinais de cansaço após 22 anos de mercado, especialmente na dirigibilidade. O salto de desenvolvimento para a nova geração é visível.
A nova plataforma, batizada pela Fiat de MPP, trouxe 10% a mais de rigidez torcional do chassi. E isso influencia no comportamento do sistema de suspensão, no desempenho e na previsibilidade de reações.
Quanto mais rígida, menores as deformações da carroceria, especialmente em curvas acentuadas e nas mudanças bruscas de direção.
Pena que a coluna de direção tem apenas ajuste para altura, faltando o de profundidade.
No asfalto
Em rodovias, a nova geração da Fiat Strada se mostrou bem comportada tanto em retas quanto trechos sinuosos. A oscilação da carroceria diminuiu bastante em relação a antecessora, que era um pouco inconstante nas curvas, exigindo mais atenção.
Já a direção elétrica veio agregar comodidade ao rodar. Trouxe leveza nas manobras e agilidade no trânsito. E se mostrou bem firme e com respostas rápidas nas curvas de alta.
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Não fossem as trepidações típicas de uma picape ao passar por ondulações na pista, diria que estava dirigindo um carro de passeio, sem caçamba.
A suspensão foi reprojetada, porém ainda valorizando a robustez do conjunto de molas parabólicas longitudinais nas traseira – afinal a caçamba sempre está associada ao transporte de carga.
Por isso, na cidade as imperfeições do piso são mais sentidas dentro da cabine devido à maior rigidez no amortecimento.
Na terra
Segundo a Fiat, a proposta da Volcano é entreter o dono que busca as características de um carro de passeio, mas sem perder a vocação de picape.
E acredita que ela será muita usada em pisos de terra nos fins de semana. Como fizemos ao dar uma esticada até a colônia alemã Witmarsum, a 60 km de Curitiba.
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Rodamos por vias com cascalho, pedregulhos e terra. E o ótimo vão livre do solo (23,2 cm) – a Saveiro tem 18,1 cm – aliado aos pneus de uso misto Pirelli Scorpion (205/60 R15), com boa absorção de impacto, garantiram uma tocada mais forte sem se preocupar em raspar o parte debaixo ou sentir as pancadas em buracos.
Houve um aumento nos ângulos de entrada (24 graus) e saída (28 graus). A suspensão reforçada complementou a sensação de segurança ao trafegar por terrenos acidentados.
Cabine dupla e caçamba mais ampla
A Strada é a primeira picape compacta do país com cabine dupla e cinco lugares.
Mérito para Fiat na teoria, porém na prática três adultos atrás só ser forem encostando um no outro. Já dois nas laterais, com uma criança no meio, vai bem melhor, apesar de o porta-copos tirar espaço para as pernas do ocupante central.
O banco traseiro é 10 centímetros mais alto que o dianteiro, o que acomoda melhor as pernas. Enquanto que o teto elevado foi em 4,2 cm, mantendo uma boa distância para a cabeça.
Pessoas até 1,79 m se acomodam com certo conforto no banco traseiro. Já de 1,80 m (meu caso) ou mais, vão conviver com o incômodo de raspar as pernas no encosto da frente caso o motorista tenha altura parecida.
Em compensação, as portas traseiras abrem em 80 graus, o que facilita muito o acesso ou desembarque.
O encosto verticalizado do assento traseiro compromete o conforto dos ocupantes em percurso longo. Mas para descolamento na cidade, nada que preocupe.
Maior capacidade de carga
A caçamba está mais comprida, larga e alta comparada à Strada anterior, além de a distância entre os eixos ter sido aumentada (2,74 m). O estepe saiu da caçamba e foi alojado na parte debaixo do carro.
Essas alterações melhoraram a capacidade de carga. Ela pode levar até 884 litros de bagagem. Mas para transportar uma moto, por exemplo, é necessário adquirir um extensor de caçamba, vendido à parte pela Fiat.
A tampa ganhou um sistema de amortecimento com molas que reduziu o esforço do abrir e fechar em 60%, ação que pode ser feita apenas com uma das mãos. E suporta até 400 kg de peso.
O compartimento já vem de série com cobertura plástica e capota marítima, que protegem a pintura e os objetos das intempéries e de olhares maldosos, respectivamente.
Há ainda uma iluminação interna em led que ajuda na visualização da carga durante à noite.
Motor 1.3 Firefly é sob medida
A Fiat decidiu equipar as versões Freedom e Volcano com o mesmo motor 1.3, da família Firefly, já disponível no Argo e Cronos. São 109/ 101 cv e 14,2/ 13,7 kgfm de torque (etanol/ gasolina).
Na opção de entrada Endurance continua o velho e bom 1.4 EVO Fire, de 88/85 cv e 12,5/ 12,4 kgfm (e/g).
A picape tem uma tocada agradável na cidade e na estrada. As relações curtas do câmbio manual de 5 marchas favorecem o desempenho. É possível encarar uma subida mais íngreme sem recorrer às marchas mais baixas.
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A montadora mexeu na segunda relação, comparada ao Argo 1.3, deixando-a ainda mais curta. O resultado são saídas e retomadas em baixa velocidade mais espertas. Os encaixes também ficaram mais suaves e precisos.
O zero a 100 km/h ocorrem em 11,2 segundos, não muito distante dos 10 s da 1.8 Adventure. O peso menor da Volcano – 1.102 kg ante os 1.253 kg da antiga (quase dois adultos de diferença) – explica a tocada próxima.
Em breve a picapinha ganhará o câmbio automático do tipo CVT, um recurso essencial para conquistar de vez os clientes de carros de passeio.
Consumo
A falta de uma sexta marcha é sentida na rodovia. A 120 km/h em 5ª, o motor trabalha com o giro acima dos 4 mil rpm. O resultado é um ruído maior invadindo a cabine, que se junta ao do vento e da rodagem.
E, claro, maior gasto de combustível. Apesar que o computador de bordo registrou 13,7 km/l com gasolina, a uma velocidade média que não passou dos 90 km/h.
Se subíssemos para 100 a 110 km/h, é provável que marcaria algo perto dos 13,3 km/l divulgados pela Fiat.
Já é bem melhor que os 11,1 km/l do motor 1.8, de 132 cv, usado pela Adventure, que saiu de cena.
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Na cidade, o torque disponível mais cedo evita exigir do acelerador e da redução constante das marchas. Fizemos 12,3 km/l, enquanto o dado de fábrica é 12,1 km/l. A Adventure 1.8 fazia 9,8 km/l.
A boa autonomia do carro é garantida pelos 55 litros de combustível que cambem no tanque.
Plástico rígido e peças do Uno e do Mobi
Ao olhar a cabine da nova geração da Fiat Strada percebemos algo já visto em outros carros da Fiat: sim, o Uno e o próprio Mobi. Inclusive na profusão de plástico rígido no acabamento.
É algo previsto no segmento, uma vez que as picapes presam mais pela robustez do que a sofisticação – na Toro é a mesma coisa.
Contudo, poderia ter pelo menos um tecido envolvendo os puxadores das portas, como existia na Adventure.
O teto com forração em preto foi uma boa sacada na estética e para a conservação. E também o acabamento texturizado na parte de cima do painel e nas portas, que quebram a sensação plastificada.
As semelhanças com os hatches seguem no desenho do volante multifuncional (porém, com base reta e o logo em preto ao centro) e nos botões de comando no formato quadrado.
O revestimento do volante é em couro na Volcano e ainda traz detalhes em preto brilhante.
Quadro de instrumentos analógico e digital
O quadro de instrumentos repete o desenho visto no Mobi e Uno e é de fácil visualização, além de apresentar um design moderno.
Há um display no centro para as informações do computador de bordo e do velocímetro digital – é colorida e de alta definição.
Ele está inserido dentro de um grande velocímetro analógico. O conta-giros e o medidor de nível de combustível, também analógicos, ficam nas laterais.
A Volcano possui bancos com tecido texturizado e repleto de faixas em baixo relevo. Os assentos possuem abas laterais que acomodam e prende melhor o corpo dos ocupantes.
Para enriquecer a conectivdade presente no novo multimídia, há duas saídas USB, uma no console central (ao lado da tomada de 12V) e outra para os passageiros detrás.
O console redesenhado tem bom espaço para pertences, incluindo uma prateleira para apoiar o celular.
Três deslizes observados:
- ar-condicionado manual (poderia ser digital);
- falta iluminação traseira
- ausência das alças no teto
Nova Fiat Strada para o lazer, além do trabalho
A segunda geração deu à Strada o status também de carro de lazer, e não só voltado para o transporte de carga e de uso por frotistas – a antiga tinha 95% das vendas concentradas em empresas.
A Fiat quer conquistar um novo público, que deseja rodar de picape sem, necessariamente, usá-la como ferramenta de trabalho.
E a versão Volcano terá um papel importante na construção dessa nova imagem, oferecendo a combinação cabine dupla, caçamba e uma dose de tecnologia que, às vezes, o bolso do cliente não consegue alcançar numa Toro.
E tem boas credenciais para alcançar o objetivo da marca e ampliar ainda mais a liderança no segmento.
Já no primeiro mês cheio de vendas, a topo de linha representou quase 40% do mix de emplacamentos da Strada. A montadora projeta que a procura pela picape vai crescer em cerca de 20% comparada à linha anterior.
PREÇO LINHA STRADA
Strada 1.4 Endurance | R$ 65.590 (Cabine Plus) R$ 74.490 (Cabine Dupla) |
Strada 1.3 Freedom | R$ 69.490 (Cabine Plus) R$ 77.990 (Cabine Dupla) |
Strada 1.3 Volcano | R$ 79.990 (Cabine Dupla) |
FOTOS: Renyere Trovão/ TrovãoMotor.com e FCA
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